Por Neci Gomes de Souza Oliveira (Neci Bahia)
Para a poço-branquense Neci Bahia (64), o Hotel de Poço Branco foi um importante marco na transformação do povoado de Poço Branco em município emancipado. Ela garante que essa transformação não foi de forma política, mas sim como porta de entrada para muitas pessoas conhecerem o novo município e sua, então badalada, barragem. Dona Neci nos revela que o Hotel foi uma das construções mais bonitas entre as que a construtora da barragem (a Firma) deixou. Para ela, “o Hotel foi muito mais do que apenas um local para hospedar turistas, altos funcionários da construtora e autoridades que visitavam Poço Branco. O Hotel marcou uma geração de pessoas, era o ponto de encontro da moçada jovem e deixou marcas até nos costumes do nosso povo - que, até aquela época, tinha apenas hábitos rurais”.
Dona Neci revela três momentos principais vividos no Hotel. Primeiro foram as grandes festas e desfiles, organizados pelos casais Bueno & Marisa e Zé de Freitas & Rosinha Freitas (administradores do Hotel em épocas distintas). O segundo importante momento de Dona Neci foram os encontros de jovens realizados no Hotel. Ela conta que tais encontros movimentavam toda a comunidade de Poço Branco e das cidades vizinhas e era um costume dos jovens da época. O terceiro e principal momento vivido por Dona Neci foi a sua lua de mel ao lado de seu esposo, Canindé Fernandes. “Ficamos no Hotel e fomos bem recebidos. Naquele tempo era comum outros casais, inclusive de outras cidades, passarem sua noite de núpcias no Hotel de Poço Branco. Ainda hoje guardo fotos daquela época”.
Na opinião de Dona Neci, o dia dos namorados e os desfiles de rainha eram as melhores festas realizadas no Hotel, naquela época. Ela relembra as festas animadas pelo Grupo Show Terríves (Natal), Os Impossíveis (Natal), Os Zíngaros (São Paulo do Potengi) e pela Banda Verdes Canaviais (Ceará Mirim). “Era um tempo de festas sem violência, com pouca bebida e muita animação. Não existiam drogas que a gente soubesse e as festas eram muito mais uma celebração entre amigos”, confessa Dona Neci.
No entendimento da nossa entrevistada, não pode ter havido apenas um motivo principal para a desativação do Hotel. Entre outros, o final das obras da barragem (quando o DNOCS deixou alguns prédios construídos sobre a responsabilidade única da prefeitura) foi o que mais colaborou com a decadência e fechamento do Hotel. A pouca estrutura financeira da população e a falta de investimentos públicos também colaboraram para que o Hotel tivesse desaparecido de uma vez por todas. “Infelizmente nossa cidade não lembra mais do Hotel e não achou um lugar parecido para reunir as famílias em completa tranquilidade. Os jovens da nossa cidade já tiveram um dia uma opção com essa qualidade”, lamenta Dona Neci.
Para concluir sua conversa com o Blog, Dona Neci afirmou: “Naquela época, não era fácil ir a uma festa num município aqui do lado. Primeiro porque os nossos pais não permitiam e também porque não existia transporte fácil como hoje. Naquele tempo, as opções para os jovens ficavam entre o Hotel, o Clube de Jovens e as festas e eventos realizados na antiga quadra de esportes (antigo local da Paixão de Cristo)”.
O HOTEL DE POÇO BRANCO
Por José Cassimiro Felipe
O paraibano de nascimento, o professor José Cassimiro Felipe (54), adotou Poço Branco aos seis anos de idade – época em que deu suas primeiras “carreiras” pelas largas ruas da recém-emancipada cidade. Cassimiro afirmou ao Blog que o Hotel teve dois principais momentos em sua trajetória. O primeiro foi o de abrigar a chamada “elite da construção da barragem” (formada por engenheiros, construtores e demais prestadores de serviço) durante os mais de dez anos da construção da Barragem de Poço Branco. O segundo momento teve um significado maior para o município, segundo o professor Cassimiro, pois foi quando a população de Poço Branco pode ter mais acesso ao local.
“Lembro, com muita saudade, da pista de dança ao ar livre, com luzes coloridas no palco, que existia no Hotel. Para mim, algo inédito até então”, comenta nosso entrevistado. O professor Cassimiro também relembra a influência que o Hotel deixou no aspecto artístico cultural para o município de Poço Branco. Ele cita a obra “Rapto da Princesa”, um quadro deixado, até os dias atuais, no saguão principal da edificação. “Lamentavelmente esta obra, assim como o Hotel e outras partes da nossa história, foi esquecida por quase todos nós. Só não me esqueci dos bailes, dos flertes (preliminares dos namoros), dos bate-papos e também dos roubos dos cocos verdes existentes na lateral do Hotel”.
Cassimiro descreveu a escolha das misses e os desfiles como sendo as festas mais marcantes entre as que foram realizadas no Hotel. “Existiram outras, mas as que foram organizadas pela então Primeira Dama do município, Dona Djanira de Faria, e pelo então prefeito de Poço Branco, Dr. Valban Bezerra de Faria (engenheiro e socialite), eram de encantar os olhos de qualquer um. O casal dançava valsa como ninguém e eu ficava babando...”.
O professor Cassimiro foi o único, dentre os entrevistados nesta série, que não se alongou quanto aos motivos que levaram a desativação do Hotel. Em sua opinião, faltou apenas uma visão futurista de quem detinha o poder de decisão administrativa e financeira sobre o Hotel. O professor finalizou sua entrevista informando que o Hotel foi, durante alguns anos, a única opção de lazer de Poço Branco e que apenas no início dos anos 70 começaram a surgir outras opções – como o Clube de Jovens (com forte influência da Igreja Católica) e os clubes sociais e desportistas (Sanelândia e Alecrim).
O HOTEL DE POÇO BRANCO
Por Zênia Maria Rodrigues Dantas
A funcionária pública Zênia Maria (50) disse não ter dúvidas da importância do Hotel para o município de Poço Branco. Ela afirmou que “o Hotel era uma das maiores atrações do município nos anos 60 e 70. Era reconhecido em todo território nacional, recebia hóspedes influentes na política e outras áreas e era onde se fazia grandes festas e eventos por aqui. O Hotel era um sonho real e motivo de orgulho para toda população de Poço Branco”.
Segundo Zênia, “o tempo passou, mas jamais esqueci a melhor época do Hotel. Tenho muitas lembranças boas, por que não dizer as melhores da minha vida. Os grandes carnavais, as outras festas, as paqueras... Enfim, tudo de bom de uma época que deixa saudades até hoje”. Zênia disse ao Blog que não tem uma festa ou evento mais importante que o outro: “tudo era muito bom quando acontecia no Hotel”, garante.
Esta poço-branquense, que já ocupou (e ocupa) diversos cargos públicos importantes no município, acredita que o erário público foi o principal responsável pela desativação definitiva do Hotel. “O município passou de um simples povoado à cidade muito rápido, e não conseguiu se desenvolver nesta mesma proporção de velocidade. Acho que faltou qualificação, investimentos, visão futurista e outros fatores aos governantes da época”. Dentre as demais opções de lazer da população de Poço Branco (entre os anos 60 a 80), Zênia destaca o Cinema do Sr. Manoel Cruz, o Hotel, o Clube de Jovens e a antiga quadra de esportes - próxima à barragem.
Para finalizar seu bate-papo com o Blog, a poço-branquense Zênia Maria acrescentou que “Poço Branco foi um município projetado pelo homem e organizado por Deus para brilhar e se destacar das demais cidades da região e, por que não, até do Estado. Tínhamos tudo para isso, mas infelizmente alguns dos governantes não souberam (ou não quiseram) lidar com esse dom natural e acabaram deixando esta terra perder a credibilidade, o valor e o crescimento que já poderia ter alcançado antes. Felizmente ainda temos pessoas compromissadas com esta terra querida, que quebram paradigmas e trabalham arduamente para recuperar esse tempo perdido. Quem sabe, um dia, ainda poderemos sonhar com coisas boas como foi o Sanelãndia Hotel. É o que espero”.
3 comentários:
Fico feliz, em saber que o meu tio lembra de coisas boas, que existiam em nossa maravilhosa cidade, apesar de esta no esquecimento de alguns.
São coisas que deve ser lembrado com muito carinho, estou longe mais amo minha terrinha.
ASS: CLARA DEINIVÃNIA DA ROCHA CASSIMIRO
daniel é interesante as no9tas do hotel, mas manda as noticias inportante, como saniamento politica, educação entre outros. obrigado.
Assim como o Cassimiro, meu amigo de infância, também sou paraibano, mas passei minha infância em Poço Branco. Meus pais, Genival Matias de Araújo e Iracema Dantas de Araújo, já falecidos, trabalhavam na construtora Nóbega Machado. Lembro com saudadades dos bailes no hotel, principalmente os bailes de carnaval.
Moro em Campina Grande desde 1972 mas nunca esqueci Poço Branco e acompanho as notícias neste blog fantástico. Fiz várias visitas a Poço Branco desde que sai de lá em 1969, mas fiquei um pouco frustrado por não encontrar ou não reconhecer os queridos amigos de infância.
Cassimiro, espero que você leia este meu post. Um forte abraço do seu velho amigo.
Luis Carlos Dantas Matias
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