1 de abr. de 2012

APROVEITANDO O 1º DE ABRIL

CARTA A PRESIDENTA


Excelentíssima Sra. Presidente da República Federativa do Brasil:

Manifesto meu total apoio ao seu esforço de modernização do nosso país. Como cidadão comum, não tenho muito mais a oferecer além do meu trabalho, mas já que o tema da moda é Reforma Tributária, percebi que posso definitivamente contribuir mais. Vou explicar.

Pela atual legislação, pago na fonte até 27,5% do meu salário e mais outros descontos que não tenho como evitar (INSS, Vale Transporte, consignações e outros descontos). Como a senhora pode ver, sou um brasileiro afortunado. Sou obrigado a concordar que esse valor é pouco dinheiro para o Governo fazer tudo que promete ao cidadão em tempo de campanha eleitoral - mesmo juntando o que todos os demais assalariados também pagam.

A minha sugestão é invertermos os percentuais: a partir do próximo mês autorizo o Governo a ficar com a maior parte do que me sobra. Portanto, eu receberia apenas um quarto do meu trabalho mensal e o Governo fica com o restante, mas leva as minhas contas de:

Escola e planos de saúde de meus filhos; despesas com dentista; remédios; materiais escolares; previdência privada; condomínio; contas de água, luz e telefone; alimentação; gastos com combustível; transporte coletivo; vestuário; lazer; pedágios; taxas e vários outros impostos. Pode incluir também qualquer taxa que, por ventura, foi criada por qualquer um dos três poderes e que não temos como nos livrar quando precisamos.

É o que posso fazer para ajudar o Brasil agora. Um abraço e que a senhora tenha muito boa sorte, do fundo do meu coração.

Assinado: um trabalhador que já não sabe o que fazer para conseguir sobreviver com alguma dignidade e que aceita até negociar aquele percentual.

AS SACOLINHAS DO SUPERMERCADO

Anos atrás, as maiores redes de supermercados do Brasil diziam ter um custo anual de R$ 200 milhões distribuindo, “de graça”, as sacolinhas de plástico aos seus consumidores – cada uma a um custo médio de R$ 0,04.

Como seria lógico imaginar, dificilmente esses R$ 200 milhões já não estariam embutidos nos custos do supermercado, assim como é a energia elétrica, a limpeza e até o sorriso dos funcionários dos supermercados.

Conta-se que os grandes supermercados, numa compaixão inédita em favor do meio ambiente, uniram-se numa campanha para exterminar o uso de sacolinhas de plástico. E por que isso?

A intenção é que, ao invés de “dar” as sacolinhas, os supermercados irão vender sacolinhas biodegradáveis, ao custo de R$ 0,19 cada: quase cinco vezes o valor da antiga sacolinha. A este custo (R$ 0,19) os supermercados terão um ganho anual de quase R$ 1 bilhão por ano ou, mesmo que apenas metade das pessoas comprem as novas sacolinhas, quase R$ 500 milhões.

E as sacolinhas biodegradáveis? Bem, elas só serão consideradas “biodegradáveis” apenas se forem corretamente condicionadas em Usinas de Compostagem. Entretanto, essas usinas não existem, ainda não foram construídas e a primeira talvez só comece a funcionar em 2014 ou mais adiante. Seria tudo isso uma grande farsa ou apenas o cumprimento de uma lei criada com a mesma intenção?

Entre tantas justificativas, ainda diz-se que, durante as chuvas, as sacolas de plástico entopem “as bocas de lobo” e provocavam enchentes porque as pessoas usam as sacolas plásticas para jogar o lixo caseiro fora. Será mesmo que as sacolas plásticas são as principais responsáveis pelos alagamentos ou a falta de obras estruturantes e a conscientização das populações são tão responsáveis quanto?

Em todo caso, em breve teremos que comprar sacos de lixo para esse fim. E isso é ainda melhor para os supermercados, pois cada pessoa que reciclava as sacolinhas de plástico usava, em média, três unidades por dia para acondicionar o lixo. Isso dá cerca de 90 sacolinhas por mês - usadas para jogar o lixo caseiro fora. Como os supermercados vendem um pacote com 100 sacos de lixo, em média, por R$ 12, então, durante um ano, uma dona de casa vai gastar 1.080 sacos de lixo e vai precisar comprar 11 pacotes de saco de lixo, gastando R$ 132.

Um valor razoável visto as contribuições para o meio ambiente. No entanto, considerando que os supermercados “gastavam” R$ 200 milhões “dando” as sacolinhas aos consumidores e, em breve, venderão as sacolas biodegradáveis e sacos de lixo, as grandes redes de supermercados lucrarão, pelo menos, R$ 9 bilhões com os novos produtos em suas prateleiras.

Em suma: pagaremos pelas sacolinhas biodegradáveis (tão frágeis que não servirão nem para acondicionarmos o lixo caseiro) e pelos sacos de lixo. Assim, os supermercados vão ganhar entre 6 e 13 vezes mais do que hoje. Bom pros supermercados, bom pro meio ambiente: verdade ou apenas mais um conto de 1º de abril?

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