7 de out. de 2011

DE POÇO BRANCO A NATAL

O TRANSPORTE DE MASSA

Devido à proximidade com a capital do Estado, cerca de 60 km, uma parcela considerável da população de Poço Branco costuma se dirigir com frequência a Cidade do Sol. Seja para trabalhar, estudar, vender, comprar, realizar procedimentos médicos, odontológicos ou estéticos, como também procurar outras opções de lazer e entretenimento, o poço-branquense conhece bem este “pedaço” da BR-406.

Trata-se de um percurso considerado pequeno e de curta duração, mas que ultimamente tem causado muitos transtornos aos conterrâneos. Não bastasse a dificuldade de acesso aos meios de transporte convencionais (ônibus e alternativos), mesmo quem possui veículo próprio tem reclamado dos constantes engarrafamentos e da lentidão do trânsito natalense. Entretanto, este nem é o objeto principal deste texto e nem a maior de todas as reclamações dos usuários do transporte intermunicipal.

Ônibus enfrentam a concorrência dos alternativos
Quem precisa fazer o percurso Poço Branco/Natal/Poço Branco tem reclamado mesmo é da falta de opções eficazes de transporte. As linhas de ônibus existem e até em maior número que no passado, mas continuam escassas e incapazes de atender prontamente a quem mais precisa. As lotações e os alternativos surgiram como uma possibilidade de melhoria e da quebra de monopólio do setor - o que realmente aconteceu nos primeiros anos de sua implantação. Depois, como quase todo tipo de serviço, os opcionais estagnaram, não evoluíram e lideram a lista de reclamações no setor. Mesmo assim, a maioria dos poço-branquenses tem optado pelas lotações e alternativos, embora o sistema de ônibus também possua seus defensores ferrenhos.

A comerciante poço-branquense, Maria de Lourdes (45), afirma: “Só vou a Natal de alternativo porque eles pegam a gente em casa e deixam no local desejado. Para retornar é só a gente fazer uma ligação para um loteiro e ele vem nos pegar em qualquer ponto da capital. E sem contar que você faz as coisas à vontade, sem tá preocupada com a hora de pegar o ônibus”.

Para Francisco de Assis (39), porteiro, o ônibus é a melhor opção: “Prefiro o ônibus porque tem mais conforto e segurança. Alguns alternativos andam muito rápido, sem passar segurança para o passageiro. Já ouvi dizer que muitos não passam por manutenção. Muitos andam com pneus carecas, as portas não fecham direito, os cintos não tem encaixe e a passagem é mais cara. No ônibus vou até o Alecrim e só pago R$ 13,00 por duas passagens (ida e volta)”.

Táxis e clandestinos disputam passageiros na Mangueira (Igapó)
A estudante Giovana Rufino (23) vai além. Ela afirma que os dois tipos de transporte deixam a desejar. “O ônibus tem pouca opção, pois passa duas ou três vezes na cidade. Quando vem de Natal, no último horário, temos que descer de um transporte para embarcar em outro, lá nas Placas, e isso gera transtornos pra quem já paga caro. Os alternativos não respeitam os passageiros. O que eles querem é faturar alto. A maioria dos motoristas fuma, anda em alta velocidade e sem contar que, quando vai abastecer os veículos, não faz os procedimentos corretos e legais. Alguns motoristas chegam a fumar e a atender ligação de celular ao lado da bomba de combustível ou de gás. Quando os veículos ou ônibus estão lotados, vemos erros e barbeiragens no trânsito de ambas às partes”, conclui Giovana.

Em todo o mundo, a busca para oferecer o melhor meio de transporte possível é regra – pelo menos em países desenvolvidos. Lá, o mais eficaz é o transporte ferroviário, pois, além de barato, a ferrovia tem uma taxa de confiabilidade maior até que a aviação. O problema deste modal de transporte é o seu alto custo de implantação, manutenção e expansão. No Brasil, os trens (leves ou pesados) destinados ao transporte de passageiros enfrentam, há vários anos, pressões e campanhas contrárias a seus interesses. Os defensores da rodovia e da aviação sempre possuíram discursos afinados e ações políticas que paralisaram as tentativas de reerguer o transporte interiorano de trens no Brasil.

Para melhorar o tão deficitário transporte de massas, o trem até seria uma boa alternativa – como já foi um dia, mas só beneficiaria o cidadão comum. As grandes corporações de empresários (do ramo dos transportes) ficariam sem o lucro que hoje obtêm com os tipos tradicionais. Outra saída é a quebra do monopólio das linhas intermunicipais de ônibus e alternativos. Isso poderia criar mais opções aos usuários e retiraria de algumas empresas a exploração exclusiva de grandes áreas populacionais - como é o caso da região do Mato Grande. Na prática, isso é mais difícil ainda...

O certo é que não deve haver apenas as alternativas anteriormente citadas. Certamente há outras, mas o que parece nunca ter existido é a intenção de modificar a atual realidade pra melhor - nem da parte dos empresários, nem da parte dos governos. A população continua a esperar por melhorias, sobretudo quem precisa fazer o percurso Poço Branco/Natal/Poço Branco diariamente, mensalmente ou com uma frequência menor. Esta parte da população tem toda razão quando reclama.

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